Em alguns momentos, aquele famigerado som do silêncio
noturno, me faz chegar à beira da loucura. Não sei ao certo se é por perceber,
então, o motor da geladeira antiga, cigarras ao longe, na mata virgem que cerca minha
vila de nascença (virgem, até a ganância do homem percebe-la e querer enriquecer com seu rico cabaço, fruto raro), um
tom em lá que o ar frio da madrugada sopra, semitonando a cada instante,
misturado com os veículos acelerados lá fora ou, até mesmo, o apito do vigia que
nada vigia, pois, não temos nada pra ser vigiado. Tantos latidos e miados, eu
nem tenho bicho algum, só um corpo cansado e, espera, tenho sim, um pássaro
velho que, assim como o dono, já não canta com o mesmo fôlego. Enfim, esta louca sinfonia noturna ecoa na véspera do sono, me fazendo
dispersar (afinal, desperto é disperso), aflorando a insônia corriqueira e me obrigando a escrever diversas
coisas, como essa, por exemplo.
Então, fico na duvida se conseguirei
dormir rapidamente. Crio métodos infalíveis que sempre falham, me viro de lá
pra cá, coloco minhas mãos por baixo ou em cima do travesseiro, tanto faz, nunca
estou totalmente confortável, deve ser pelo colchão já batido, talvez. Me coço, esfrego os pés um no outro, posições
diversas com uma só finalidade: Dormir! Como foi o dia anterior? Como consegui?
Não me lembro. Na maioria das noites é assim, quase um KamaSutra do sono, inventei esse termo agora, em uma das minhas
idas e vindas, de tentar dormir e deixar de escrever idéias soltas, porém, me ajeito novamente
na cama, mas, penso um pouco mais e tudo vem a tona, voltando aos rabiscos.
Os ruídos não param nunca! Percebo que
essa sintonia fina, que sopra um agudo chiado, não está fora do quarto ou da
minha casa, mas, está dentro da minha cabeça, em uma harmônia desarmoniosa. Quanto mais presente é uma coisa,
menos notamos sua presença, infelizmente, é assim. Bem, desisto de emanar lamúrias, jogo o bloco de
anotações de lado, porém, antes disso, já fui e voltei inúmeras vezes, arremessei
pela quarta vez agora, creio. A cada pensamento, sinto a necessidade em
anota-los. Acho até que já descobri a cura da AIDS ou uma fórmula química pra
converter rapidamente, em segundos, água do mar em água potável, porém, como
não as anotei, certo que lembraria no outro dia, acabei esquecendo, claro! Anoto
tudo, desde então, sempre que possível, bem verdade.
Enfim, cubro a cabeça, lembro
rapidamente do dia que se passou e organizo mentalmente os afazeres do próximo. Assim,
bocejo e mal percebo que dormi, parece até que foi tão rápido. Logo, quando me dou conta, já estou sonhando com algo
que, provavelmente, esquecerei ao despertar. Esquecer meus sonhos importantes também é outro dilema, não sei porque os considero importantes, uma vez que não lembro deles (está bem, réu confesso, aí está a importância: Esquece-los para não enfrenta-los). É isso, amanhã é outro dia, a noite é
outra tormenta.